Descrição enviada pela equipe de projeto. Se existisse um parâmetro único para medir o êxito de uma obra de arquitetura, deveria ser a satisfação de seus habitantes. Tanto a palavra êxito quanto satisfação são ambíguas e subjetivas; como todo reducionismo, levantam uma série de discussões possíveis, mas devemos dizer que neste caso não nos interessam. Não nos parece relevante incidir sobre a forma ou a sustentabilidade da intervenção, nesse projeto destacamos como chave de nosso êxito a alegria de um casal em viver na sua casa e, claro, a nossa alegria em concluir o trabalho e compartilhar um vinho com eles em sua cozinha.
Por isso o projeto se explica através de um decálogo que fala de um processo, de sonhos, de expectativas, de caminho, de risos, de luta, de família, de pássaros, de colaborações, de dinheiro, de amizade, de clima... Ou seja, de tudo que rodeia cada obra de arquitetura, mas percebendo que o processo é o que a enriquece e que permanece, e que fotografia e planta não são capazes de narrar com tanta precisão quanto a palavra.
A) Perspectiva 1 para entender o projeto – descrito pelos arquitetos – O decálogo da “Casa de pássaros”
1. Os clientes agora são nossos amigos.
2. Integramos, pela segunda vez em nossa carreira, ninhos de vários tamanhos para melhorar a população urbana de aves. Pássaros! Queremos mais sons de pássaros!
3. Obtivemos classe energética A. Biomassa: A local, caroço de azeitona. O isolamento: externo.
4 Criamos uma arquitetura divertida, porque a vida quanto mais divertida melhor.
5. Fizemos um escorregador, janelas redondas e escotilhas no piso, a janela de Heidi e janelas indiscretas, que aspiram o ar quente como chaminés.
6. Pedimos e foram concedidos: Lâmpadas coloridas, pedras de rio no chão do pátio, peixes na piscina, tomate e abobrinha, portas recicladas saindo para o jardim.
7. Nós adoramos: A grade que vai e volta, o jogo do que é jardim e do que é casa, o jardim que sobe e configura o espaço da sala e da biblioteca. A fachada posterior que parece um Kandinsky.
8. Ansiamos por: As folias por vir no subsolo e o chão quadriculado em branco e preto muito barato, o desenho dos banheiros e o chapéu de palha de Nicolás para suportar os 40º enquanto escava pedras. A conversa com o vendedor de fogões. Os móveis da avó.
9. Foram improvisados: As lâmpadas de show de Adele e as que Néstor gostou, o tijolo à vista pintado de branco, o concreto com vazios e as paletes da entrada.
10. O que não gostamos: os amigos Nico e Pilar nunca nos responderam no facebook. Nenhuma cadeira velha do tipo Alice no país das maravilhas, nem presentes grandes de vasos laranjas, nem nada.
B) Perspectiva 2 para entender o projeto - descrito pelos arquitetos - Pilar queria um jardim, Nico uma sala ampla para os amigos.
Voltando de uma cerveja em sua casa, viemos contando...No fim das contas têm um jardim, uma piscina e uma cozinha que dá nesse pátio. Uma horta que na metade da obra já dava tomates, dos bons para gazpacho; já que tem um pai, agora avô, que entende de hortas.
Na sala, sombra no verão e sol no inverno, e esparto a Oeste. Adoramos o esparto e sua cor ao sol da tarde! Têm a janela de Heidi com vista para Sierra Morena ao invés do Alpes, uma escotilha enorme e um escorregador que vai do quarto da pequena à piscina.
Um jardim que se espreita pela casa, um piso no porão que ondula antes de estar bêbado. Uma cerca, muito barata: peletes. Um escândalo na vizinhança! O silo para a azeitona, o isolamento externo, a água do poço para a piscina, a qualificação energética A.
E têm a casa laranja. A casa laranja feita para os ninhos dos pássaros, em toda a parte superior, para os peneireiros-das-torres, para a andorinha, para a coruja, porque ninguém se lembra de como as corujam soam...Você lembra? E têm o terraço, para olhar um pouco para as minas inglesas, para fazer topless, para pendurar a roupa. E têm uma filha linda, Carmem, que não tinham quando eram apenas Nicolás e Pilar entrando em nosso estúdio para que fizéssemos uma casa.